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Avaliação Psicológica e Neuropsicológica de crianças e adolescentes, Orientações a pais

“Todos nós temos uma força de vida que nos impulsiona à criatividade, ao aprendizado, ao trabalho, ao estabelecimento de bons vínculos uns com os outros e ao enfrentamento de dificuldades. Em alguns momentos da vida, porém, podemos passar por situações de maior fragilidade emocional ou mesmo por momentos de crises. Nessas situações, o vínculo terapêutico poderá ajudar no restabelecimento do equilíbrio emocional”

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Psicossomática

Penso que a ideia de doenças psicossomáticas é para ser examinada e usada com cautela, pois é um termo usado em diferentes contextos, como o médico, o psicológico e também o do dia a dia das pessoas, já que é muito comum atualmente ouvirmos dizer que “essa dor é emocional”. Pode parecer simples supor que uma dor seja emocional, mas no estudo da psicossomática existem muitas perguntas e muitos caminhos para as respostas.
Por um lado, é fácil perceber que as doenças geram emoções.  A preocupação com a saúde geralmente provoca ansiedade, doenças graves podem gerar muita angústia e até mesmo culpa. Mas e as emoções, elas podem causar doenças? A expressão de emoções em sinais físicos ou doenças é comumente chamada de psicossomática. Mas explicar tudo por esse caminho pode ser arriscado e simplista. 
Pode ser irresistível relacionar, por exemplo, raiva com dores de estômago, preocupação com dores de cabeça, estresse com alergias. Mas precisamos lembrar que há uma integração tão plena entre corpo físico e o psíquico, formando o indivíduo, que pode ser muito reducionista buscar uma relação direta de causas entre emoções e doenças, ainda mais considerando que cada um de nós somos únicos e reagimos de forma diferente tanto em  relação aos sintomas físicos como aos emocionais.
Penso que o que mais influencia nessa troca entre as emoções e a saúde é o próprio indivíduo e o seu momento – ou seja, a pessoa com seu corpo físico e emocional e as suas condições de existência. Nessas condições de existência entrariam principalmente os seus relacionamentos familiares, sociais e de trabalho.
A psicologia, tão ampla em teorias e técnicas, também vê a psicossomática de formas diferentes, não necessariamente excludentes.  De um modo bem simples, há quem procure fazer uma relação direta entre determinada emoção e um sintoma físico específico, há a busca por uma simbologia para uma doença – assim, a doença seria a representação de conflitos e desejos. Também há também a explicação pela ação pulsional (libidinal) no corpo.
Nessa idéia da ação pulsional no corpo, seria a intensidade das emoções (de prazer ou desprazer) que geraria um excesso pulsional (de libido – ou pulsão de vida – ou uma ligação entre pulsões de vida e de agressividade) que estaria livre e precisaria ser extravasado de alguma forma. Uma das formas dessa energia transbordar seria a ação direta no corpo (provavelmente no órgão mais vulnerável do indivíduo, naquele momento). Podemos também chamar a pulsão de energia.
Quando falamos que o excesso de prazer ou desprazer pode gerar um excesso de energia que vai transbordar de alguma forma, dizemos que não só a dor, mas também a felicidade, podem influenciar na saúde das pessoas.
Nem sempre essa energia irá ter ação direta no corpo, ela também pode – e geralmente o faz, buscar outros caminhos. Ela pode buscar suporte em representações mentais do sujeito e ganhar o contorno dos medos, das idéias obsessivas, das histerias.
Uma ideia importante na psicossomática, quando buscamos uma explicação pelas pulsões, é a de que o homem, quanto mais consegue se aproximar de suas emoções, vivenciando-as plenamente, menos precisará lidar com os excessos de energia que buscam por caminhos e formam sintomas. Ou seja, precisamos aprender tanto sofrer como nos alegrar.
Além das emoções e pulsões, não podemos nos esquecer de que temos um corpo físico, com alguns sintomas muitas vezes inevitáveis.  Portanto, gosto de tomar especial cuidado com o perigo de se atribuir a qualquer pessoa a responsabilidade por ter determinada doença. Isso é importante principalmente em relação a doenças mais graves, que geram muito sofrimento.
Existe uma diferença muito grande entre o próprio individuo buscar uma explicação para a sua dor (uma busca legítima e construtiva de superação) e entre ouvir de outro – um familiar, psicólogo ou médico – dizer que ele fez a sua doença por determinados motivos. Essa é uma atitude dominadora de quem supõe saber sobre o outro mais do que realmente poderia saber.
É comum as pessoas se sentirem culpadas por estarem doentes, é compreensível que busquem explicações em emoções ou em situações de vida. E é claro que é importante para cada um construir um significado para a sua condição de estar com uma doença.
É justamente em momentos de fragilidade, como uma doença física, que as pessoas se veem desamparadas e buscam suporte emocional, como a psicoterapia, e se sentem motivadas a fazer um balanço da sua vida, uma análise de suas atitudes. É quando a vida se torna frágil que a pessoa se faz muitas perguntas, se questiona como teria sido a vida se suas escolhas tivessem sido outras.  O papel do psicólogo, nesse momento, sem conceitos reducionistas, é o de dar suporte emocional, ajudar a clarificar as situações, estar com o paciente nessa busca de sentido para a sua dor e de caminhos para sua existência.

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